terça-feira, 11 de março de 2014

O quanto nós não somos!


Um terço da minha vida foi vivido a teu lado... lembro-me perfeitamente quando eu com 10 anos acabadinhos de fazer chegava ao chamado ciclo e te conheci, tu mais novo do que eu uma semana, uma semana nos separou de vir ao mundo, e lembra-me do teu pai dizer que eras uma apaixonado pela leitura. A nossa amizade começou aí para nunca mais acabar. Fomos inseparáveis até terminarmos o secundário, e mesmo não sendo na mesma turma no secundário, andamos sempre juntos. Lembra-me das disquetes que trocamos, do Prince of Persia, do supaplex, e tantos outros, compactados em jar, depois e já mais na nossa adolescência passamos a trocar cd's, eu viciado em jogos de futebol, andava sempre com os "fifas" em minha posse, tu mais virado para jogos de guerra, duke nuken, quake e outros do género eram mais a tua perdição. Contigo bebi as primeiras cervejas, e foi no teu carro que começamos a sair, a ir para o tabuão no final das aulas logo que aparecia a primavera e dava vontade de beber uma cervejas fresquinhas. Eras o meu parceiro de ping pong quando ganhamos o desporto escolar em Viana e fomos representar o distrito a Santa Maria da Feira, nem num desporto individual estávamos separados.
Seguimos as nossas vidas, mas elas andavam sempre juntas, os fins-de-semana eram passados em conjunto, o futebol era visto junto, nas grandes jornadas de futebol no xapas, ainda quando nos sentávamos em cima da banca encostada à parede, e foi sempre assim, sempre a ver o futebol juntos, lembra-me como sempre no teu jeito calmo me comentavas um lance, uma decisão do arbitro ou um golo. Os sábados há tarde não eram sábados, sem o nosso café no xapas, fosse Inverno ou fosse Verão, e os domingos pois claro era o nosso Courense, o clube que não deixaste enquanto tiveste forças. Não consigo quantificar os jogos que vimos lado a lado no testo, não só jogos dos seniores, quantos jogos vimos das camadas jovens, quantas vezes fomos nós nos sábados depois no nosso café até ao testo para vermos os putos jogar, mandar umas caralhadas e beber umas finaças? As nossas vidas seguiam, mas nós continuávamos, as noitadas, os lanches, as borracheiras, as suecadas, o sobe e desce, os nossos, com os nossos, momentos.
Seguiste pelo mundo, foste em duas missões representar o nosso pais, mas voltavas, voltavas sempre, com o mesmo sorriso, com a mesma calma, com a mesma serenidade. A minha primeira grande viagem foi juntos, Praga será para sempre um marco, por cá os festivais eram juntos, Arcade Fire no meco, ou outra tanta boa musica na relva de Paredes Coura, sempre contigo, como teria de ser e acredita que todos os anos sempre que me lá sentar vou beber um fino contigo, porque tu estarás sempre comigo.
A vida queria-nos juntos, compraste casa em Braga quando eu já cá trabalhava, e passavas a fazer parte também desta comunidade, as noites no stephane, a champions juntos, já era tradição.

E foi em Braga que descobriste que a vida te traiu, e foi por cá que me ensinaste o quanto a vida não é nada, o quanto a vida é uma ilusão, a tua historia é a etapa mais dura da minha vida, os meses mais logos de todas estas três décadas, mas é uma lição do quanto nós não somos. Mas é também a maior lição de luta que alguma vez já vi, alguém que sempre gostou tanto de viver se agarrou a todas as forças que tinha e no seu maior sofrimentos tentou sempre proteger aqueles que ele amava. É a lição como alguém tão simples, tão bom, tão puro, tão honesto também parte, e parte deixado-me a certeza que a vida não escolhe os bons nem os maus, escolhe-nos a todos, porque nós não somos nada, e como nada que somos, temos de viver com toda a força que temos todos os dias, como tu viveste, sabendo que um dia vamos embora, mas aos que deixamos temos de deixar o mesmo que tu Tiago me deixas, uma eterna lembrança de um enorme amigo que eu nunca vou esquecer, e tu sabes que na maior dor nos ensinaste que só vale a pena nos agarrarmos as coisas boas que temos.

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